<$BlogRSDUrl$> <body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar/7748826?origin\x3dhttp://ana_mc_portugal.blogspot.com', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

Meridianos & Paralelos

Um blog de notícias alinhavadas quase sempre à margem das notícias alinhadas

terça-feira, agosto 31, 2004

FÊMEO


«Uma edição... Dom Quixote» Posted by Ana M.C.


«Fala-se (...) da mulher e da sua condição como se a igualdade fosse um problema só das mulheres, quando é muito mais do que isso: uma questão de organização social, de direitos humanos, de democracia e de desenvolvimento»

Quem o diz na praça pública é Manuel Alegre, que quer ver mulheres na liderança política, a começar pela do seu próprio partido. Este homem pode, em verdade, vir dizê-lo em alta voz. Não apenas porque é poeta, mas porque é insuspeito. Quem lhe olha a vida e a obra sabe que não se trata de um piscar de olho em tempo de eleições, sabe que não é um piropo de barbas sedutoras. Porque o Alegre tem este hábito antigo cultivado ao caminho: senta-se no Arelho e pesca durante a noite. Esperando a alvorada.



A SELVA


A Selva Posted by Ana M.C.

Meu pequeno Faroleiro, guardião da costa e das lusitanas praias do meu país, ontem, na televisão, ouvi-te dizer o seguinte:
« Isto aqui não é uma selva! »
Pois bem, serve a presente para exercer o direito de exprimir opinião que me reconheces e protestar violentamente contra as tuas irreflectidas palavras. Agora fui eu que não gostei do prejurativo sentido que emprestaste à «Selva».
Quem dera pudesses tu saber da ancestral sabedoria que vive ainda com os Povos da Floresta!... Mas não sabes! Nota-se que não sabes. Seria preciso que os "assuntos do mar" te embrenhassem por outras correntezas e igarapés.


DIZ ELE!...


«Liberdade de Expressão» Posted by Ana M.C.


«O princípio da prevalência da nossa lei está garantido», disse este senhor. Qual lei, perguntamos nós? ... a lei que existe ou a que ele quer que exista?
Para nosso imenso descanso, o mesmo senhor acrescenta:«Os portugueses vivem num país livre onde há liberdade de expressão».
O problema é que depois, para concluir, só precisa de uma única frase:« Do ponto de vista do Estado, o assunto está encerrado.»
Que gratificante saber que nos assiste o direito de falar "com a parede"!... Que bom saber que temos um Governo tão democraticamente dialogante!!...

Vale a pena ouvir as palavras da boca do próprio. O tom e o timbre são, na verdade, irrepetíveis. Escute-o aqui.


PETIÇÃO ON LINE


«Um Chão, Um País» Posted by Ana M.C

«Apelamos a todos os cidadãos e cidadãs, independentemente das suas convicções pessoais sobre a realização do aborto, mas que querem viver num país onde as mulheres não sejam penalizadas, onde o respeito pelas escolhas de cada mulher e cada família sejam respeitadas, onde a dignidade seja um valor concreto e a educação sexual, o planeamento familiar e o acesso à contracepção sejam garantidos conforme a lei estipula, para que manifestem o seu repúdio por esta decisão do governo e o seu apoio à alteração da actual lei sobre a interrupção voluntária da gravidez. Apelam ainda aos órgãos de soberania para que se pronunciem sobre esta decisão


A Petição está on line aqui.
Leia e se entender por bem assine. A democracia e Portugal agradecem.


segunda-feira, agosto 30, 2004

T.P.C, MEUS SENHORES!


Foto de Lorraine Daley - Cortesia XC Posted by Ana M.C.


Bem sei que este Governo, ainda que recente, já se tornou imbatível em Gabinetes de Assessoria de Imagem e Comunicação. Bem sei que a grossa fileira de consultores, técnicos e assistentes ganham ordenados bastante..."motivadores"para cuidar da imagem do executivo diante da opinião pública. Mas não me parece que estejam a dar o seu melhor ao serviço de quem lhes paga ao fim do mês. Não me parece de todo que tenham feito os deveres de casa. Deixo-lhes algumas pistas para arrepiarem caminho, uma vez que já estão atrasados no cumprimento da tarefa: já não vão a tempo de avisar o Ministro que seria preferível evitar referir-se em público ao Barco «Borndiep» como um incidente sem expressão obrigado a partir envolto num nevoeiro de pouco caso. É que, por muito aborrecido que seja, cá dentro e lá fora observa-se, fala-se, pensa-se, avalia-se e escreve-se acerca do modo como o Governo português acolheu e lidou com a iniciativa da organização legal Women on Waves.

Eis alguns exemplos de media internacionais (Click sobre os Links):

Aljazeera 29-08-04

Gulf News 29-08-04 Portugal turns away Dutch abortion activists' boat

Gulf Daily News 29-08-04 Dutch boat is barred by Lisbon

The Washington Times 28-08-04

BBC 28-08-04

Reuters 28-08-04

Estadao 28-08-04

DR Nyheder 28-08-04

Népszabadság 28-08-04

Australian Broadcasting Corporation 28-08-04

CNS News 24-08-04

Reuters 23-08-04

BBC

CNN

Berita Harian 24-08-04

Feminist Majority

New Zealand Herald

AOL Info

IOL South Africa

Le Monde

Ms.Magazine

Minnesota’s Women’s Press

Malta Today

Spits

Indymedia

Telegraaf

NOS nieuws 23-08-04

NOS nieuws 29-08-04

ABC 29-08-04 El Gobierno de Portugal prohíbe amarrar en sus puertos al «barco del aborto» holandés, que llega hoy

La Voz De Galicia 29-08-04 El Gobierno portugués prohíbe al «barco del aborto» atracar en los puertos lusos

La Rioja 29-08-04 Mujeres sobre la tormenta

El Correo Gallego 29-08-04 Portugal rechaza el 'barco del aborto'

El Mundo 28-08-04


e alguns outros arrebanhados dos media nacionais (click sobre os Links):
Publico Online 29-08-04 Interdição do "Barco do Aborto" Surpreendeu PSD e CDS

Publico Online 29-08-04 Organizações Envolvidas na Iniciativa

Correio da Manha 28-08-04

Angola Press 28-08-04

Publico Online 27-08-04 Associação de Paredes Apresenta Queixa-crime

Publico Online 27-08-04 Deputados do PSD Pedem ao Governo Que Impeça Entrada de Mulheres na Embarcação

27-08-04 Aborto no Barco Tem Riscos Mínimos, Diz Miguel Oliveira da Silva

Lusa 25-08-2004 LusaTV: Barco do Aborto: Associações garantem que tudo vai estar dentro da lei

Lusa: 25-08-2004 Barco do Aborto: Organização contratou empresa segurança para proteger navio

Lusa: 25-08-2004 Barco do Aborto: Ministério da Defesa promete agir se lei for desrespeitada

Lusa: 25-08-2004 LusaTV: PCP: Comité Central aprovou teses de alterações pontuais no partido

Lusa: 23-08-2004 Aborto: Navio tem autorização de mais do que um porto para atracar - Associação

Lusa: 23-08-2004 Barco do Aborto ao largo de Portugal durante duas semanas

Jornal de Notícias 2004/08/26 Aguas internacionais protegem Portugal

Jornal de Notícias 2004/08/24 Navio a caminho Portugal para defend

Jornal de Notícias 2004/08/23 /Navio onde se fazem abortos vem

RTP Ministério da Defesa promete agir sobre o "Barco do Aborto" se lei for desrespeitada

RTP Navio do Aborto tem autorização de mais do que um porto para atraca

RTP Oposição apoia presença do barco do aborto ao largo de Portugal

RTP BARCO DO ABORTO na costa portugues

RTP Barco do Aborto ao largo de Portugal durante duas semanas

APF

RTP Oposição apoia presença do barco do aborto ao largo de Portugal

TSF

Publica

Noticias

Portugal Gay

Jornal Digital

Altermedia

Em verdade, o facto mereceu importância a muito boa gente. Pena que só não a tenha merecido por parte do Governo.

P.S - É favor aproveitar que a "papa" já vai meia-feita!... Agora é só ter atenção, porque a todo o momento há iniciativas, reacções, comentários, reflexões, artigos e trabalhos editados a este respeito. Tentem manter a lista actualizada... Por favor!...



TIME OUT !!


«Oxalá!...» Posted by Ana M.C

Termina hoje o prazo de 30 dias que o Conselho de Segurança das Nações Unidas deu ao Sudão para desarmar as milícias e pôr termo ao massacre em Darfur.

...E se o presidente Omar El Bashir tiver sido influenciado pelo brilhantismo do argumento do nosso pequeno Faroleiro? ...E se o seu acordo com o disposto na Resolução 1556, de 30 de Julho, também tiver sido só em abstrato? ...E se vier agora responder à ONU com uma lógica de Faroleiro? ...E se der o dito por não dito e lhe responder que afinal considera o comprometimento internacional "uma ameaça à soberania do governo" sudanês? E se Omar El Bashir seguir o exemplo do governo português e disser a Kofi Annan que «não é um navio estrangeiro, seja ele qual for, que vem ensinar os portugue(sudane)ses»??...

Oxalá Omar El Bashir não siga a cartilha do Guardião do Mar Português... para bem do Sudão, para bem de muitos: dos sudaneses.


domingo, agosto 29, 2004

OS TUBARÕES DE FERRO


«Navios de guerra portugueses em cerco ao "Borndiep Posted by Ana M.C.

Este senhor anda envolto numa felicidade salobra. Afinal o seu ministério já tem "assunto" para o mar!... Afinal a marinha de guerra sempre faz falta em Portugal!... Ainda bem que, contra tudo e contra todos, lá comprou os tais submarinos: se os navios de guerra não chegarem para fazer face ao Grande Barco Fantasma das Fêmeas-Sombra, ainda fica esse trunfo na manga!...
Eu bem disse que ainda o havíamos de ver lançar os seus Tubarões de Ferro para travar o avanço das Mulheres-Onda!!... É que os votos da mais extremada direita, que se podem encontrar entre alguns dos que se posicionam contra a despenalização do aborto, podem ser magros mas em tempo de disputa com estes outros senhores nada é de desperdiçar!
É verdade que «Grão a grão enche a galinha o papo», mas não é menos certo que «Quem semeia ventos colhe tempestades».


sábado, agosto 28, 2004

VISIBILIDADE



«The Witness...» Posted by Ana M.C.

O Barco da Controvérsia está para lá das 12 milhas legalmente exigidas por lei, impedido de entrar em águas territoriais portuguesas. Mesmo assim as Mulheres de Bordo já desembarcaram. Uma chatice para o Governo, os efeitos secundários que certas leis da Europa têm!... "Portas" fechadas ao mar, resta ainda esse corredor de janelas que a livre circulação de pessoas entre fronteiras da União rasga a Portugal.O debate sobre a desumana desatenção jurídica diante da realidade das mulheres que abortam está nas ruas, nos cafés, nas conversas cruzadas das pessoas, nos jornais, nas rádios e nos horários nobres dos principais noticiários de televisão. Que a seriedade e a delicadeza do problema se coloque urgentemente na agenda política também!Seja como for, mesmo sem permissão para atracar, o Barco das Mulheres-Onda já provou que mesmo sem certeza de porto, qualquer viagem vale a pena.



O SANGUE DOS OUTROS


«"Assuntos" de mulher, argumentos ao mar» Posted by Ana M.C.

Pela boca do secretário de Estado para os Assuntos do Governo, ficámos a saber que o «Borndiep» foi impedido de entrar em Portugal por razões de defesa da saúde pública. Ficámos a saber que o Governo está preocupado com os recursos clínicos a bordo desta unidade de saúde móvel e que teme que o barco possa «pôr em risco a vida das mulheres que a ele recorram». Poder-se-ia perguntar ao Governo que é feito dessa mesma preocupação, desse mesmo zelo e temor, diante dos insondáveis locais onde o aborto clandestino é praticado em Portugal, locais onde nunca ninguém vai porque legalmente se lhes nega a existência, locais sem endereço, sem rua, nem tabuleta na porta. Locais que nunca ninguém inspecciona porque ninguém sabe exactamente onde ficam nem como funcionam. Poder-se-ia perguntar ao Governo se não o preocupa que o silêncio e o obscuro da lei transformem esses locais num fumo que nem ele próprio consegue atravessar e onde nem com todo o poder que lhe assiste consegue fazer entrar equipas de inspecção médica e sanitária.
É que o «Borndiep» ao menos tem nome e rosto, aparece nos radares da nação e está devidamente sinalizado. Assume uma bandeira, uma convicção, um ideal. E é sabido o quão mais fácil é a um governo disparar contra alvos visíveis, o quão mais fácil se torna apontar baterias a um inimigo localizado no horizonte, do que fazer face às guerrilhas subterrâneas que se ocultam na penumbra, caminham pelas ruas do país, camufladas, consentidas, disfarçadas, misturando-se com a população em plena luz do dia.
Poder-se-ia recordar ao Governo que a clínica a bordo do «Borndiep» é operada por profissionais de saúde diplomados e que foi devidamente verificada e certificada pelas autoridades de saúde holandesas, seu país de origem. Mas pela boca do mesmo secretário de Estado, o Governo objectaria que esta não se encontra, todavia, certificada pelas autoridades de saúde portuguesas. E caberia então indagar porque é que até ao momento nenhuma delegação portuguesa subiu a bordo para proceder à sua inspecção e avaliar da respectiva acreditação ou não, sendo essa a grande preocupação onde reside o impasse.

Caberiam seguramente muitas outras coisas menos o grotesco fundamento avançado para explicar a interdição das águas portuguesas ao «Borndiep». É de muito mau gosto que no Despacho se evoquem razões de zelo para com a saúde pública. Leviandade por leviandade, o barco poderia ter sido impedido de atracar sem necessidade de recorrer a tamanha hipocrisia. Assim como assim, qualquer outro argumento teria servido menos este


A PROVA


«Os Activistas» Posted by Ana M.C

Hoje, junto à lendária Acrópole de Atenas, aconteceu uma mega-manifestação contra a Guerra no Iraque. Alarmado com esta prova não prevista no calendário, Sr.Collin Powell recusou-se então a dizer adeus aos jogos e apressou-se a anunciar que afinal mudara de ideias: já não estaria presente na Cerimónia de Encerramento das Olimpíadas. Porquê????


A ESCADA QUE DESCE


« Outros Patamares» Posted by Ana M.C

Na primeira grande entrevista depois da tomada de posse, este Senhor disse á revista «Visão», à laia de quem descreve o seu quotidiano no comando do poder que: ««Um Primeiro-Ministro, ocupa metade do seu dia com assntos de política externa». E como quem antecipa a forma como gostaria de ser recordado na história do país, acrescentou: «O meu grande objectivo é ter sido Primeiro-Ministro do crescimento económico, do crescimento sustentado e da justiça social». Disse em remate, o mesmo Senhor: «Sei o que quero: colocar Portugal num nível claramente superior de desenvolvimento». Mais uns dias há frente cruzou-se com uma mulher nua, à entrada de um porto de mar, lá para as bandas da costa da Figueira da Foz. E então deu meia volta, retomou a descida até aos porões da cave escura, esqueceu-se da escada, do patamar de cima e da frase, impediu o barco de entrar no país, atropelou a democracia e as liberdades consagradas ao país que governa e abriu um tenebroso precedente de prepotência que coloca Portugal no centro de um conflito diplomático com a Holanda, a Europa e o Mundo.

NUMA QUALQUER CAMA, PERTO DE SI


«Aqui, na Nossa Cama» Posted by Ana M.C.


Segundo dados do Ministério da Saúde e da APF :

- são praticados em Portugal, pelo menos, 20.000 abortos ilegais por ano;

- cerca de 5.000 mulheres são anualmente assistidas nos hospitais devido a complicações resultantes de abortos ilegais;
- mais de 100 mulheres morreram em Portugal nos últimos 20 anos, vítimas de aborto clandestino;
- O risco de morte por aborto clandestino é 150 vezes superior ao do aborto assistido;
- 25 em cada 1000 adolescentes tem uma gravidez não planeada, um dos valores mais elevados da Europa

Ao contrário do que o Governo português sustenta, o aborto é praticado em Portugal, sim.
De forma clandestina, sem condições de higiéne e nenhuma segurança.
Mas fazem-se abortos em Portugal, sim.


A NEGA


Imagem de Kertesz Posted by Ana M.C.



Na BBC: «Portugal has refused permission for a Dutch "abortion ship" to enter its territorial waters. The government said the group operating the trip planned to hand out pills to end early unwanted pregnancies - a procedure prohibited in Portugal.
In Portugal, abortions are only allowed in exceptional circumstances, such as when the mother's life is at risk.
The ship has stopped in other Catholic countries with restrictive abortion laws such as Poland and Ireland.
Botched abortions
The vessel leased by pro-choice group Women on Waves is staffed by a doctor, a gynaecologist and a nurse.
To circumvent Portuguese law, volunteers had planned to hand out pills which induce abortion once the ship was back in international waters where Dutch laws would have applied to the vessel.
If we accept that third parties come and violate our laws it would become much more difficult to impose authority amongst the Portuguese
Mr Thomaz Portuguese Secretary of State for Maritime Affairs Nuno Fernandes Thomaz cited legal and health reasons for turning the ship away:
"It is a question of legality and not of morality.
"If we accept that third parties come and violate our laws it would become much more difficult to impose authority amongst the Portuguese."
He pointed out that the abortion pill is banned in Portugal.
One of the volunteers on board the ship told AFP news agency by telephone that they were "trying to figure out" what they could do.
Up to 40,000 illegal abortions - some of which are fatal - are carried out in Portugal every year, according to family planning agencies.
Women are periodically taken to court for having unwanted pregnancies illegally terminated.
Many Portuguese favour changing the law to make getting an abortion easier, according to opinion polls.
But in the spring, Portugal's centre-right administration used its majority in parliament to vote down proposals by left-wing parties which would have loosened abortion legislation.»

A notícia ficou imediatamente on line na BBC. Prevê-se que outras tantas se sucedam. Portugal é pois notícia nos principais orgãos de comunicação social mundiais.



O GUARDIÃO DOS MARES


« O Faroleiro» Posted by Ana M.C.

É Portugal, eterno Rei e Senhor dos Mares, desafiando as Leis e Convenções Internacionais!... Pode ler-se aqui o texto do acordo marítimo embora não tenha servido para nada. É que Portugal está a cima de qualquer cachimbo da paz fumado quando os Grandes Chefes se reunem à volta da mesma mesa, em acordo de cavalheiros. Portugal tem o seu pequeno mas bravo Faroleiro que, qual intrépido e vigilante Guardião da Costa Lusitana desafia qualquer maré que ameace entrar-lhe pela proa. O despotismo travou a "onda" à boca da barra mas custou-nos a todos um eminente conflito diplomático.
Sentemo-nos pois no paredão. Façamos-lhe companhia. E enquanto a tempestade se desenha ao longe entoemos-lhe um fado mareado:


Canoa de vela erguida,
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira
O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

Canoa, Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas voltas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem
Canoa, Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais

Canoa de vela panda,
Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra
Teu arrais prendeu a vela,
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo


«Canoas do Tejo» de Frederico de Brito


"PORTAS" FECHADAS AO MAR



27 de Agosto: O barco «Borndiep» apresenta oficialmente um pedido de autorização de entrada no porto da Figueira da Foz. Recorde-se que dentro da União Europeia, o pedido de autorização de entrada é apenas uma formalidade. De acordo com as convenções e legislação, nacional e internacional, todos os barcos comerciais têm direito à passagem inofensiva por águas territoriais nacionais, bem como à entrada nos respectivos portos.



Ás 23h 37m desse mesmo dia um despacho enviado pelo Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos do Mar, através do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, comunica à tripulação do «Borndiep» que o pedido de permissão acabara de lhes ser negado. O barco das Mulheres-Onda está proíbido de entrar em águas portuguesas.



INDISPONIBILIDADES



«Min. da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar»Posted by Ana M.C.



É sensato ouvir todas as partes. É razoável aceder directamente às fontes. É aceitável o esforço, a curiosidade e o interesse. Procuro pois o Despacho onde se possam ler as boas razões com que o governo português argumenta e fundamenta a decisão de interditar o porto da Figueira da Foz ao Barco holandês «Borndiep». Compreensível, pois que busque informação sobre o assunto no site do Ministério da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar. Se for até , percebe que o próprio Ministro concordaria com este meu movimento táctico, defendendo ele mesmo a presença na internet como forma de ir «tirando partido das novas Tecnologias da Comunicação».
Se reparar com atenção, encontrará no canto do lado esquerdo uma nota de "Boas Vindas" onde se pode ler:« aqui nos propomos disponibilizar um conjunto de informação, que acreditamos seja relevante e útil a todos os que visitam esta página.» Gostei particularmente do trecho onde se lê: «A Defesa Nacional, no seu conceito mais lato e abrangente, é parte integrante e nuclear da vida do País e o seu conhecimento, constitui certamente uma mais-valia no objectivo de aproximação entre o Ministério, as Forças Armadas e os cidadãos.» Mas nem por isso me senti mais "aproximada". É certo que a última actualização do site foi no dia 26 de Agosto!... É certo que hoje é sábado e que as pessoas têm direito ao fim de semana, que diabo?!... Mas faço as contas ao calendário e fico a perguntar-me porque é que é 26 e não 27... Será que foram de fim de semana antes de mim? Será que não se trabalhou por lá na 6ªfeira?!...
Seja como for, resta a possibilidade de aceder a este Ministério através do
Portal do Governo.
Ainda assim, se o fizer não terá melhor sorte. Se a busca visa algo mais do que conhecer a composição do Governo e o Perfil dos Ministros, há-de certamente seleccionar a opção que lhe resta à navegação e clicar sobre as «Notas de Imprensa». Pura perda de tempo, acredite: as mais recentes são, respectivamente, a que diz respeito à «Assinatura do Contrato para o Fornecimento do Radar da Madeira» (com data de o6 de Agosto deste ano) e uma outra, (datada de 03 de agosto) sobre o «Protocolo com a Shell Gás para o Fornecimento de gás Propano». Conclui-se, pois, que nada mais de extraordinário se considera merecer informação pública a quem acede o serviço.
Assim sendo, não resta alternativa senão navegar por outros recantos do ciberespaço para dar voz à parte contrário. Espanto dos espantos, encontro o bendito
Despacho publicado justamente no site que as mulheres do «Borndiep» também têm na Internet.
Convicções à parte... bem mais democrático, cabe reconhecer!... Lá, pelo menos, não só se divulgam as próprias ideias e convicções, como se dá igual oportunidade de expressão a um entendimento contrário e diferente. Aplaudo a forma neutra como o fazem: sem comentários nem juízos de valor, isento e insuspeito. Apenas a divulgação do documento (o original, ainda por cima). Como convém. Como facto que é.

Obrigado, pela parte que me toca fiquei um pouco mais esclarecida acerca das boas razões do Governo do meu País.



quinta-feira, agosto 26, 2004

IMPERDÍVEL MILAGRE

«O Milagre Segundo Salomé» do realizador português, Mário Barroso, é candidato à nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Volto a editar agora, aqui, o que publiquei a 29 de Maio deste ano, a propósito desta obra.


Em Lisboa estreou há poucos dias um filme que a febre só hoje me permitiu ir ver. Fico no escuro da sala a pensar que gostava de partilhar este filme convosco. E não resisto a sugeri-lo aqui porque é na verdade um dos mais belos filmes que me recordo de ter visto acontecer ultimamente ao cinema português. Simplesmente não sei como falar-vos dele!... Como contar-vos disso que flui e narra o irrepreensível olho realizador diante de mim?...
Apontado ao meio, este é um filme com histórias e personagens. A reconstituição histórica é magnífica. A interpretação é soberba. Mas, na verdade, aquilo que me deslumbra está para além disso e, sem vos ter ao meu lado na escuridão da sala, não estou bem certa de saber contar-vos o que é.
Talvez seja a inusitada coincidência que faz de Salomé, tesouro bem guardado de um bordel de Lisboa, chegar-se à janela para ver passar a procissão e alguém se dar conta da inquietante semelhança entre o seu rosto e a estátua da Virgem que segue no andor. Talvez seja essa subtileza de começar a contar uma história pela banal casualidade de uma semelhança singelamente ousada de heresias. Talvez seja o correr do enredo e esse delicioso ambiente de ambiguidades perturbantes, por onde se me erguem perplexidades e questões sem fim. Talvez seja o retrato agri-doce de um Portugal anterior, às voltas com a mesma actual promiscuidade entre a política e os outros poderes, no caso o religioso. Talvez seja esse contínuo ir e vir do brejeiro à tragédia, da comédia de boulevard ao drama e ao melodrama, dos corpos às almas, do profano ao sagrado. Ou talvez seja apenas o belo tornado visível na admirável caminhada para o milagre.
No escuro da sala, sem vos ter ao meu lado diante do filme, vou pensando que aqui tudo está no lugar certo, sem que o lugar certo seja necessariamente o lugar óbvio. Porque este filme não parece vir de nenhum lugar reconhecível. O que aqui está é, aos meus olhos evidentemente (faça-se a ressalva!..), uma fita admirável de muito bom cinema. Só muito a espaços surge um filme assim, como este, que me devolve à rua com a sensação de ter feito um imenso favor a mim mesma quando me sentei no escuro da sala para o ver.




FICHA TÉCNICA


Argumento, adaptação e diálogos
CARLOS SABOGA

Baseado no romance de
JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS

Música de
BERNARDO SASSETTI

uma co-produção
MADRAGOA FILMES (Portugal)
GEMINI FILMS (França)

Com a participação de
ICAM Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia
RTP RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA

Com o apoio de
Eurimages

Produzido por
Paulo Branco

Realização
Mário Barroso

Elenco
Ana Bandeira, Nicolau Breyner, Paulo Pires, Ricardo Pereira, Ana Padrão, João Didelet, Margarida Vilanova, Ana Zanatti

Portugal, 2003, Cor, 1:1,66, 97’, DOLBY SRD




O filme vai beber o vôo ao livro de José Rodrigues Miguéis. Dois volumes que são um grande fresco da sociedade lisboeta da época e da ambiência depressiva fruto da degradação dos sonhos republicanos, que de queda em queda sufocariam com o golpe de 28 de Maio de 1926. O boato sombrio de um Milagre acontecido em Fátima, lá para os lados ermos de uma tal Cova da Iría, volta a acordar o ideal monárquico de que uma única figura haveria de surgir do nevoeiro para tomar as rédeas do Império, o leme de um Portugal à deriva. É outra vez o piscar de olho à deposta figura do Rei, o Grande Homem, o Salvador da Pátria, metáfora a prometer a Ordem, a Tranquilidade, a Estabilidade, tudo convenientemente maiusculado como convém aos mitos. É o bota-abaixo da irrequieta República, moçoila garrida e descuidada que vai deixando cair sucessivos governos, enquanto a Grande Aranha urde a sua teia cinzenta onde em breve cairá a "Idade de Ouro"do futuro, que alimentava os sonhos de dias melhores.
No meio da teia da Grande Aranha, urde-se uma figura de Mulher, Salomé: profano nó que enreda as malhas em que ela própria se tornará sagrada presa.




Fica aqui a sugestão. Seja cinema , video ou DVD, não percam O Milagre... quando passar perto de vocês.


quarta-feira, agosto 25, 2004


Na «OCIDENTAL PRAIA LUSITANA»...


«As nuvens cinzentas do Manel»Posted by Ana M.C.

Estava este senhor hibernado no seu sono de reabilitação, após o desastre da votação obtida na primeira vez que levou o seu novíssimo partido à consignação do voto nas urnas, quando o troar das sirenes de uma embarcação ao largo o despertou. Pôs-se de pé num salto, levou as mãos em pala aos olhos piscos do dormente torpor do sono e fixou o horizonte negro. O contraluz baralhou-lhe a percepção e no lugar do pequeno barco viu um sombrio casco de navio-fantasma. Depois pareceu-lhe ver vultos fêmeos a bordo. Lembrou-se das histórias de medo e terror que contam as gentes em terra que nunca viram o mar de perto. Lendárias histórias por confirmar, mas em que acreditava piamente mesmo assim, avisado que estava do desassossego que acontece aos que se aventuram a questionar demasiado o desconhecido. Ele sabia!... ouvira contar!...Contar de como a corrente traz consigo pérfidas e sinistras criaturas de mares distantes, amaldiçoadas criaturas disfarçadas pelo belo que o feminino tem o dom de emprestar à forma, figuras aparentemente inofensivas, feitas para iludir e consigo arrastar ao fundo a bonança das marés. Firmou o olho apavorado e pareceu-lhe ver vultos fêmeos a bordo. Ao pânico do navio somou-se a visão de uma tripulação feita de mulheres e correu à praça pública. Em correria tropeçada, lá chegou ao largo do coreto entre os primeiros. Subiu para um banco enferrujado ao canto, encheu o peito de ar e de um só fôlego rugiu qualquer coisa que ficava entre o alerta e a fúria. Afinou pelo desafio, por cima do coro a que se juntou. Para bem da nação, veio clamar que se impedisse a entrada do Grande Navio Negro e das Mulheres-Fantasma nas lusitanas àguas azuis da pátria. Veio exigir ao ex-amigo, ex-parceiro ideológico, ex-colega de partido, actual inimigo público e pessoal, actual rival político, e, por acaso e coincidência dos infortúnios do nosso destino, actual Ministro da Defesa e (mais recentemente) do Mar também, que faça o que entende pertencer à sua área de competência: defender o «Mar Português».


«Os submarinos do Paulinho» Posted by Ana M.C.

Recostado na sua cadeira estofada de almirante sem patente, mas olho de rapina sempre vigilante, o ex-amigo do senhor que afinava a voz em desafio, lá para as bandas do coreto, acendeu mais um charuto de alívio: ainda bem que desatara os cordões á bolsa para comprar os submarinos da polémica! Em último caso, enviaria os seus tubarões de ferro contra o Barco das Mulheres-Onda para guardar as franjas do «Mar Português»


«As ondas das Mulheres da Praia»Posted by Ana M.C.

Na praia, as Mulheres em Terra permaneciam de olhos postos em cima da superfície, aguardando com a inabalável convicção das longas e antigas esperas, a maré que havia de desembarcar as outras que um dia chegariam, vindas do mar.


segunda-feira, agosto 23, 2004

AS MULHERES DO BARCO







Posted by Ana M.C.



Elas andam no mar mas pode navegá-las aqui:

WWW.WOMENONWAVES.ORG





domingo, agosto 22, 2004

"SUNDAY, BLOODY SUNDAY"


«O GRITO» de Edvard Munch (1893) Posted by Ana M.C.

Foi preciso roubar «O Grito» e a «Madonna» para que o mundo falasse do contrabando de arte que corre paralelo ao da droga, dos diamantes, das armas e das ideias. Fica a faltar falar do contrabando de gente. Fica a faltar falar do contrabando de espécies animais em extinção. Fica a faltar.
Doeu-me a perda. Péssimo dia para roubar «O Grito». Era para ser um Domingo tão bonito, hoje!...


quinta-feira, agosto 19, 2004

ABRAM ALAS!!...


O Barco Posted by Ana M.C.

Abram alas!... Elas vêm. Elas aceitaram. O Barco vai zarpar. Se os ventos ajudarem, Domingo, dia 29 de Agosto entram a barra. Estaremos no paredão do cais.


sexta-feira, agosto 13, 2004

O RAPAZ DO BARCO


«Ao "Rapaz" do Barco!» Posted by
Ana M.C

Começaram as Olimpíadas. Bonita a cerimónia de abertura. Bonito o desfile das Mulheres-Estátua entre os Deuses de Pedra Branca. Bonito o reflexo inumano do Sagitário escarlate áquem do espelho. Bonito o fogo e o lago. Bonito o vôo de Eros sobre a dança chapinhada do homem e da mulher. Bonita a asa do barco de papel que te larga, Meu Rapaz, na direcção dos mares ao largo. A antiguidade é, na verdade, um posto. Uma herança lendária. Um tempo primeiro. Pareceu-me muito bem ter sido um velejador a incendiar a chama ao facho que há-de arder até à derradeira prova!...



quinta-feira, agosto 12, 2004

"PORTUGAL TEM O PRAZER DE CONVIDAR..."


« Este é um símbolo a reter: WOW - Women on Waves» Posted by Ana M.C.

WOMEN ON WAVES... Faz muito tempo que sigo as Mulheres de Rebecca Gomperts e o seu trabalho. Agora um conjunto de portuguesas vontades uniu-se no convite à Grande Timoneira para navegar o seu barco até águas de Portugal. Que a decisão as traga a uma qualquer doca do nosso cais, que a chegada dessa onda urge!!...


«CLUBE SAFO, AJAP; UMAR e NÃO TE PRIVES» Posted by Ana M.C.


terça-feira, agosto 10, 2004

TELEVISÃO COM ALMA


«Esboço Brasileiro» Posted by Ana M.C.


Hoje é dia de mais um dos 5 episódios da belíssima série de documentários «Music of Brazil». A apresentação foi entregue a Gilberto Gil (aquele que é músico, cantor e compositor). Na versão inglesa da série a narração fica por conta de Lucy Duran, uma autoridade em música africana e latino-americana. A produção é da BBC, a realização de Belisário França e a edição de Michael Macintyre. O resultado é o trabalho de uma equipa de autores brasileiros que viajaram mais de 80.000 quilómetros e dedicaram três anos da sua vida a compilar a música do seu país. Para ver na RTP2, por mais umas quantas Terças-Feiras, depois da meia-noite: 55 preciosos minutos onde se mostra, à raiz, a variedade de músicas, danças e cantos de um Brasil rico em diversidades, gentes e modos de vida.

Um extraordinário exemplo de como vale a pena investir tempo e gente para trazer à televisão programas mais ao osso e menos à rama.


AS MINHAS HISTÓRIAS DE PEQUENINA



«Jorge e os Amados livros de histórias da minha infância» Posted by Ana MC

Estas serão para sempre as histórias da minha infância.Sentavas-te na beirada da cama grande e lias ao sono que não havia meio de vir... punhas-me sobre os teus joelhos, no baloiço da cadeira na varanda grande, sob o alpendre do caramachão, e fazias desfilar diante de mim, intermináveis galerias de mágicas personagens garridas de tanta vida. Cresci a escutar-te e era inteiramente tua a minha mais funda atenção extasiada. Cresci entre a ladeira e o pelourinho, rente ao porto e ao cais, embalada no balanço dos saveiros e no colo generoso dos bordéis das mulheres belas e livres, no acalanto das noites do sertão, sob o aroma das roças, entre os pés de café, longe da senzala. Cresci cavalgando ruas, ondas e campinas. Ouvi as lendas dos teus negros, sentada em caixotes de galpão e aprendi a cuspir e a trepar ás árvores com os meninos-capitães. Pentearam-me as mãos das tuas mil mulheres, enquanto cozinhavam para mim nas largas panelas de sabores coloridos. Foram os teus coronéis que me puxaram as orelhas, aos primeiros castigos imputados por tanta liberdade. Mas segurei a tua mão nas noites de luar, escondi-me entre as tuas pernas ao troar dos tambores e afoxés e acendi contigo velas nas noites de terreiro. Aprendi a beijar nos teus areais brancos e nadei com o teu cordão de peixes e siris debaixo das correntezas de verdes azuis. Segui-te por ilhéus e campos de algodão. Andei contigo por tertúlias e boémias, ouvi-te discutir o jornal do dia e aprendi a amar o cheiro forte da cachaça e o riso franco que ela solta. Enfeitaste-me com tesouros de mascates, pedrarias de pechisbeque, perfumes de garrafa e cortes da mais pura chita. Levaste-me do salão aos bailes do jardim do coreto e às rodas de capoeira. Rodopiaste-me por entre a tua gente e abriste-me o mundo no vôo lânguido de quem não tem nem tempo nem pressa. E depois sussurraste-me ao ouvido: «Vai pescar histórias mais ao largo, que a vida é uma romaria logo ali, mais ao fundo! Vai e conta, mesmo que ninguém pareça interessado em te ouvir!».

Eterno conversador!... Delirante e louco... contador de histórias que são morada de gente... alucinado mestre no amor pela parte maldita da vida... prosador que me vieste murmurar o impagável prazer de prosear em vagabunda prosa... Grata! Grata te sou, pelo privilégio de te teres sentado na beirada da minha cama de criança e ter sido meu o teu colo nas tardes da varanda grande.



sexta-feira, agosto 06, 2004

O IMPERDÍVEL DO INSTANTE


PAUL GAUGIN - 1892 (Tahiti)


HENRI CARTIER-BRESSON - 1934 (México)

Dois olhares vadios. Um fechou-se em 1903. O outro agora: em 2004, há poucos dias atrás. Fixo-me sem querer nessa nada casual coincidência de Cartier-Bresson ter aberto os olhos para o mundo por altura em que os de Gauguin se fechavam… Penso e fico muito tempo a vaguear esses labirintos sinuosos por onde pensar prazenteiramente me perde. Deixo aqui as duas imagens de onde não consigo escapar neste momento (… nem mesmo para escrever!). Não sei se seremos impressionados exactamente pelo mesmo, mas por certo nos roçaremos na proximidade dos olhares cruzados.
Volto à escrita mais tarde. Quando ela pedir, coisa que não sucede agora.

(...)

Amo o olhar implacável, esse que não se desvia. Venero o olhar focado na direcção do nervo que atiça a retina com o que lhe eriça os sentidos. Viagem, Pensamento e Criação: eis os três eixos sublimes da minha triangulação da vida. Paul e Henri, os dois fizeram da vida uma inesgotável viagem tendo na mira surpreender o belo… afogar-se no que ele tem de terrivelmente esmagador e, ainda assim, sobreviver-lhe para o contar ao mundo. Aquilo que aqui vejo quando olho, é a bravura de estar no lugar exacto no momento decisivo. Só quem se permite à presença pode render testemunho. Tanto Paul como Henri ousaram ser coincidentes com o instante e é só por isso que, hoje, olhá-los é ter o privilégio de contemplar o que em si mesmo é irrepetível, sem por um segundo perturbar a harmonia ou a desordem ao acto íntimo de acontecer… Preservado!... intocável e intacto, o amar das duas taihitianas… o amar das duas mexicanas. Em 1892 e, mais tarde, em 1934. O amar das mulheres que, agora, também nós aqui olhamos. Por isso amo tanto este olhar, este que se permite porque não perturba, antes vê o imperdível.



quinta-feira, agosto 05, 2004

LA BELLA DIVA


Marilyn Posted by Ana MC

É condição de todas as coisas belas viver debruçadas sobre o precipício onde se abisma tudo o que é irrecusável. Nasceu bela. Fizeram-na mais bela ainda. Poderiam ter-lhe ao menos sussurrado ao ouvido que, de tão inescapável, só o belo nos pode ser verdadeiramente fatal. Com maior ou menor facilidade, tudo o resto é evitável.



terça-feira, agosto 03, 2004

A "ÚLTIMA CHAMADA"!...


«Irrepetíveis Começos» Posted by Ana M.C

Após o regresso, volto à Floresta este Sábado, pela mão de Sydney Possuelo, um homem que levou uma câmara e uma equipa para dentro de uma Amazónia marginal ao exótico circuito dos turistas de ocasião.
É um notável trabalho de paixão que segue os trilhos da Floresta Ancestral pela mão das tribos que a conhecem como ninguém. Vai falar-se da gente que vive embrenhada nos igarapés da densa mata. Vai falar-se da relação primeira com a selva, da cultura e dos costumes, da arte e da sobrevivência, do homem, da árvore, da água e do bicho, de ensinamentos essênciais para uma sabedoria mais à frente. Vai falar-se da violenta rapina para que urge acordar o mundo: da venda ilícita da madeira virgem, do tráfico ilegal de algumas espécies de animais, e dos esforços feitos por homens e mulheres ao tentar proteger o coração do mundo.
É uma produção da New Atlantis em 13 episódios, chama-se « Amazonia, Last Call» e passa sem horário certo, ao sol das tardes de sábado, na RTP2.


segunda-feira, agosto 02, 2004

DESAMPARO


«Negra Fome».... Fotógrafo desconhecido Posted by Ana M.C.

Os aviões do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU estão enfim a sobrevoar o Sudão para lançar alimentos. Desde que começou a tragédia humana esta é a primeira ajuda alimentar à população. O comunicado da PAM, divulgado em Nairobi, diz que os aviões já descolaram ontem, Domingo, e fala em 1.400 toneladas para uma estimativa de 72.000 vidas em luta pela sobrevivência em Habilla, Arara, Beida, Kongo Arasa, Mastari e Morni. O Sudão tem 39.200.000 habitantes, espalhados por um território de 2.376.000 quilómetros. Que a subida do preço do petróleo entretanto anunciada não interfira nas operações porque se torna evidente a urgência de multiplicar as descolagens!



domingo, agosto 01, 2004

SOBRE OS PIPELINES






«As Plataformas» Posted by Ana M.C.


Respondendo à contestação da localização da refinaria, responde este
Sr. que «o que esteve em causa foi apenas um acidente numa obra no pipeline».«Apenas»?? ... Recomenda-se um contacto urgente com o Instituto Nacional de Emergência Médica. Talvez os números do hospital de campanha instalado no local, situem o Sr."Apenas"!... Na realidade, Sr."Apenas", é uma pena mas este não foi um acidente isolado. Dou-lhe algumas pistas que valeria a pena o seu Ministério analisar: verifique o ocorrido a 15 de Novembro de 1990, e a 16 de Junho de 1997... e no ano seguinte, a 14 de Novembro... ou há bem pouco tempo, ainda este mês para ser mais exacta, no passado dia 22. As explosões deste fim de semana são, em boa verdade, mais um de vários sustos!Ouço este Sr. respirar de alívio porque se tratou de «um acidente numa obra no pipeline» e pergunto-me se não se dá conta que é isso que «está em causa»! Meu Caro, caso não tenha reparado, estas gentes vivem precisamente por cima de um labirínto de pipelines.É certo que em 1966, quando a Petrogal se instalou ali, pouco ou nada existia em redor e que as habitações foram crescendo depois. Redundante discutir quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha. A refinaria ocupa 200 hectares e estende os seus tentáculos por mais de 21 tubagens com 2 Km cada. Alguma coisa correu mal no licenciamento dos prédios que foi permitido contruir na área e que hoje erguem realidades verdadeiramente urbanas no local. Mas também é verdade que, ao consentir-se que assim continue a ser, não mais se pode autorizar que a Petrogal se arrogue uma espécie de direito de uso capião, operando e crescendo como se nenhuma humana presença existisse na vizinhança.Ninguém avisou esta gente que havia risco em morar ali. Importava capitalizar investimentos e fomentar o desenvolvimento do perímetro urbano. Agora não se pode mudar toda aquela população para outro lugar. Por outro lado, fazer tábua rasa do complexo da Petrogal e transferi-lo para nova localização, obriga a custos exorbitantes. Alguém devia ter pensado nisso antes!... Ou não?!... Ou a previsão não diz respeito às competências de quem decide? Aborrecido!... mas a ausência de planeamento tem o seu preço!...Assim sendo, alguém explica, por favor, a este Sr. que é legítimo que se peçam ilações do acidente a quem tutela a pasta das Cidades?Bem sabemos que é um Ministério recente e que tem sofrido vários reajustes e enquadramentos, mas tem competências atribuídas pela Lei. Em caso de dúvidas, proceda-se à consulta aqui.



CONFINADO & REFINADO


«Ensaio Sobre a Cegueira» Posted by Ana M.C.

Haja uma situação de incêndio que esteja à altura de receber a visita pessoal do Ministro do Ambiente.... Ei-lo em Matosinhos por causa das explosões da refinaria de Ferreira do Amaral (ex-Ministro das Obras Públicas e actual Presidente da Galp). Ainda gaguejante e a adaptar-se às novas funções de que o Sr. Lopes o investiu, lá foi ensaiando as primeiras declarações públicas. Disse ele que «o Governo está determinado a averiguar até às últimas consequências o facto deste acidente ter ocorrido». Depois prometeu o «inquérito rigoroso» que é da praxe. Mas, entretanto, deve ter olhado por cima do ombro e lembrou-se que Ferreira do Amaral estava mesmo ali ao lado. Resolveu então sublinhar a confiança na admnistração da Galp, como quem pede desculpa por ter uma pasta que o obriga a olhar pelo Ambiente. Não obstante o despropositado da ocasião para o elogio, foi indesculpavelmente infeliz nas afirmações que se seguiram. Disse ele que «numa refinaria como esta ninguém pode dar garantias de que não há um acidente». Resta garantir que estão criadas as condições para evitar um «acidente como este que foi um acidente de obra», adiantou prontamente sem precisar das conclusões do tal inquérito "rigoroso" que acabara de anunciar. Mas também que importância tem isso, se o inquérito vai servir para verificar se todas as normas ambientais e de segurança « são cumpridas pela Galp, como é nossa convicção que são!». São palavras do próprio que se podem escutar aqui.
Depois do que deixou dito, ficamos todos a perguntar o óbvio: ... então para quê o inquérito??? E se «ninguém pode dar garantias», então de que adianta ao Ambiente um Ministro e um Ministério???


Arquivos

- Arquivo Fotográfico -



align=


align=


align=


align=

Click for Lisbon, Portugal Forecast
moon phase
 



    Blogging Update











     

  • JOGOS EM DIRECTO







Apontadores